Armas de guerra: veja rota usada pelo CV para trazer fuzis ao Brasil Facções usam modelos fabricados em outros países; indícios apontam que criminosos transportam apenas partes das armas, completando os componentes com peças adquiridas legalmente pela int

Global News Space 31/10/2025 16:14

A megaoperação realizada na última terça-feira (28) nos complexos da Penha e do Alemão, na zona Norte do Rio de Janeiro, apreendeu 91 fuzis. Segundo a Polícia Civil, modelos de armamentos de uso das forças armadas da Venezuela, Argentina e do Peru foram encontradas na apreensão.

De acordo com a corporação, os detalhes gravados em alguns dos armamentos ajudam a dimensionar o poder de fogo do crime organizado e a identificar conexões entre facções do Rio de Janeiro e grupos de outros estados.

Entre os itens recolhidos, há exemplares com inscrições e símbolos que remetem a facções de outros estados e referências a crimes específicos, como o artigo 157 do Código Penal.

A fabricação e a rota das armas

À CNN Brasil, Paulo Storani, capitão veterano do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), explicou que o CV (Comando Vermelho) e outras facções, como o PCC (Primeiro Comando da Capital), atuam de forma transnacional

A polícia identificou que, na megaoperação desta semana, que deixou 121 pessoas mortas na capital fluminense, os fuzis apreendidos são, em sua maioria, dos calibres 5.56 e 7.62, modelos fabricados, principalmente, na Europa.


No entanto, ainda não se têm informações sobre fornecedores e rotas de entrada desses fuzis apreendidos no país. A polícia afirma que parte do armamento apreendido estava em bom estado de conservação e pode ser incorporada ao arsenal da instituição.

Uma leitura preliminar de um estudo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, divulgado em maio deste ano, apontou que 60% dos fuzis apreendidos em 2025 foram fabricados nos Estados Unidos.

Segundo a polícia, muitos desses armamentos chegam ao Brasil por rotas que passam pelo Paraguai. Há indícios de que criminosos transportem apenas partes das armas, completando os componentes com peças adquiridas legalmente pela internet.

Segundo Storani, esse transporte é feito, em sua maioria, por "mulas" — pessoas responsáveis ​​por realizar a logística para transportar as armas. Assim, o armamento, é misturado com outros produtos e escondidos em caminhões, contêineres ou carros de passeio e, posteriomente, montados em fábricas clandestinas.

Em 2025, grande parte dos fuzis apreendidos pela polícia foi montada em fábricas clandestinas e ligadas ao crime organizado, de acordo com o governo.

O capitão da PM afirma que o tráfico das armas pode ser facilitado pela corrupção de autoridades alfandegárias e agentes de segurança pública que recebem dinheiro para não fiscalizar as cargas. "Eles pagam para corromper essas pessoas, por exemplo, um fiscal de Alfândega, simplesmente para não fiscalizar. É como se não ganhassem para fazer, mas para não fazer",

O levantamento da PM destacou que 95% dos fuzis apreendidos pela corporação no ano passado foram fabricados fora do Brasil. Essas armas, por sua vez, entram de forma clandestina no país através das fronteiras com países vizinhos como Paraguai, Bolívia e Colômbia.

As armas de alto calibre apreendidas em 2024 também foram fabricadas em países como Israel, Alemanha, Áustria e República Tcheca.

O estudo da PM ainda destacou que muitos fuzis chegam ao território brasileiro em peças avulsas, compradas nos EUA por cerca de R$ 6 mil. Ao chegar no Brasil e serem montados por armeiros, são vendidos para facções criminosas por aproximadamente de R$ 50 mil. Segundo Storani, a depender do tipo de arma, esse valor pode variar e chegar a R$ 70 mil.

Os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que, entre janeiro e setembro deste ano, foram apreendidos 593 fuzis no estado do Rio de Janeiro — o maior número desde o início da série histórica, em 2007.

No mesmo período, foram recolhidos 1.471 fuzis em todo o país, sendo cerca de 40% no estado. Na média, de cada cinco fuzis apreendidos no Brasil, dois estão no Rio.