Líderes árabes se reúnem no Catar após ataque de Israel a Doha Segundo projeto de resolução que será apresentado, autoridades alertarão que a ofensiva e outros “atos hostis” ameaçam os esforços de normalização dos laços na região
Líderes de Estados árabes e islâmicos se reunirão nesta segunda-feira (15) em Doha, capital do Catar, para uma cúpula em demonstração de apoio após o ataque israelense no país.
Eles alertarão que a ofensiva de Israel ao Catar e outros “atos hostis” ameaçam a coexistência e os esforços para normalizar os laços na região, segundo um projeto de resolução a ser apresentado na reunião.
A ofensiva de 9 de setembro, que o Hamas afirma ter matado cinco de seus membros, mas não sua liderança, levou os Estados árabes do Golfo, aliados dos Estados Unidos, a se unirem, agravando as tensões nos laços entre os Emirados Árabes Unidos e Israel, que normalizaram as relações em 2020.
Um trecho do projeto de resolução, visto pela agência de notícias Reuters, afirma que “o brutal ataque israelense ao Catar e a continuação dos atos hostis de Israel, incluindo genocídio, limpeza étnica, fome, cerco e atividades colonizadoras e políticas de expansão, ameaçam as perspectivas de paz e coexistência na região”.
Essas ações ameaçam “tudo o que foi conquistado no caminho da normalização dos laços com Israel, incluindo os acordos atuais e futuros”, segundo o rascunho, elaborado por ministros das Relações Exteriores reunidos antes da cúpula.
Israel rejeita acusação de genocídio
Israel tem sido amplamente acusado de cometer genocídio contra palestinos em Gaza, inclusive pelo maior grupo mundial de estudiosos do genocídio, durante sua campanha de quase dois anos no território palestino, que matou mais de 64 mil pessoas, segundo autoridades locais.
O país rejeita a acusação, alegando o direito à legítima defesa após o ataque de 7 de outubro de 2023, por militantes do Hamas, que matou 1.200 pessoas e resultou na captura de 251 reféns, segundo dados israelenses.
Em resposta à condenação global do ataque, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, continuou a pressionar o Catar sobre a presença de líderes do Hamas em seu território, alertando Doha na quarta-feira (10) para expulsar autoridades do Hamas ou “levá-las à justiça, porque se não o fizerem, nós o faremos”.
Netanyahu afirmou no sábado (13) que se livrar dos líderes do grupo palestino que vivem no Catar removeria o principal obstáculo para a libertação dos reféns ainda mantidos pelo grupo em Gaza e o fim da guerra.
O Catar, um mediador fundamental no conflito de Gaza, acusou Israel de sabotar as chances de paz e Netanyahu de praticar “terrorismo de Estado”. Um inegrante das forças de segurança interna do Catar estava entre os mortos.
O primeiro-ministro do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, falou no domingo (14) que as ações de Israel não impediriam os esforços de mediação de Doha com o Egito e os Estados Unidos.
Trump disse que ataque não será repetido
O presidente dos EUA, Donald Trump, demonstrou insatisfação com o ataque israelense, afirmando que ele não contribuiu para os objetivos israelenses ou americanos, e chamando o Catar de um aliado próximo que trabalha arduamente para mediar a paz.
Ele também disse que eliminar o Hamas era “um objetivo nobre”. Após o ataque, o americano assegurou ao emir do Catar, Sheikh Tamim bin Hamad Al-Thani, que “tal coisa não acontecerá novamente em seu território”.
Os Emirados Árabes Unidos foram o mais proeminente entre vários estados árabes a normalizar os laços com Israel em 2020, sob os Acordos de Abraão, mediados com o apoio dos EUA durante o primeiro mandato de Trump.
O acordo que normalizou os laços entre os Emirados Árabes Unidos e Israel marcou a primeira vez que um estado árabe estabeleceu relações com Israel desde o acordo de paz da Jordânia em 1994.
O Egito foi o primeiro estado árabe a normalizar os laços com Israel em 1979, após assinar um tratado de paz.
Na sexta-feira (12), os Emirados Árabes Unidos convocaram o vice-embaixador israelense por causa do ataque e dos comentários subsequentes de Netanyahu, que descreveram como hostis.
O governo descreveu a estabilidade do Catar como “parte inseparável da segurança e estabilidade dos Estados do Conselho de Cooperação do Golfo”.
O conselho inclui a Arábia Saudita, que afirmou que não estabelecerá laços com Israel sem a criação de um Estado palestino.