Análise: Estratégia de Lula e lobby comercial criaram a “química” com Trump Presidente brasileiro definiu ações claras de resistência aos ataques americanos, conquistando o respeito do republicano e abrindo espaço para negociações

Global News Space 24/09/2025 13:54

Dois fatores foram fundamentais para criar a suposta “química” positiva entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump.

Em primeiro lugar, o líder brasileiro elaborou uma estratégia consistente para administrar a crise com os Estados Unidos – reafirmando, em todas as oportunidades, a soberania do Brasil e delimitando os pontos que não seriam objeto de negociação.

Além disso, o Palácio do Planalto atuou em conjunto com empresários e diplomatas dos dois países, estruturando um eficiente lobby para se aproximar da Casa Branca pela única via possível: a comercial.

 

Estratégia de Lula

As posições de Lula e do governo foram firmes desde o início.

Enquanto muitos políticos e analistas defendiam uma rápida rendição às pressões americanas, Lula decidiu que o melhor caminho era resistir.

Essa postura o ajudou a conquistar o respeito de Trump, que valoriza líderes fortes e costuma exigir ainda mais de negociadores que cedem facilmente às suas demandas.
O presidente brasileiro ignorou, por exemplo, os insistentes pedidos para que ligasse diretamente ao americano em busca de um alívio imediato nas medidas, em troca de concessões que não estava disposto a fazer.

Ao contrário, Lula e o Itamaraty deixaram sempre muito claro – de forma pública – que as exigências políticas relacionadas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado eram inegociáveis.

Paralelamente, o Planalto manteve aberto um espaço essencial para conversas sobre as tarifas.

Embora o governo brasileiro considere ilegais, do ponto de vista da legislação comercial internacional, as tarifas unilaterais contra as exportações nacionais, aceitou negociá-las para corrigir eventuais distorções.

Enquanto resistia, Lula também buscava evitar provocações desnecessárias ao ocupante da Casa Branca – nem sempre com sucesso. Um exemplo foi a declaração de que Trump poderia ter sido preso caso a invasão do Capitólio tivesse ocorrido em território brasileiro.

A estratégia contou ainda com intensa movimentação diplomática – incluindo contatos com alguns dos principais líderes mundiais – e uma ofensiva de comunicação.
Nesse esforço, Lula concedeu entrevistas a veículos internacionais e chegou a escrever uma verdadeira carta aberta a Trump em artigo publicado no The New York Times.

Lobby comercial

Outro pilar da estratégia foi o robusto lobby comercial junto à Casa Branca.

Com os canais diplomáticos formais bloqueados pelos americanos, o Planalto identificou uma alternativa no setor empresarial, envolvendo diretamente companhias prejudicadas pelas tarifas nos dois países.

A iniciativa privada e o vice-presidente Geraldo Alckmin tiveram papel crucial nesse processo.

Acumulando também o cargo de ministro da Indústria e Comércio, Alckmin ajudou a coordenar várias ações de empresários interessados em restabelecer pontes com Washington.

Os líderes empresariais assumiram a dianteira, contrataram firmas de lobby e mobilizaram suas contrapartes americanas.

A mensagem central transmitida à Casa Branca foi clara: a crise tarifária não prejudicava apenas o Brasil, mas também a economia e empresas dos Estados Unidos.
Nesse processo, buscou-se evitar ao máximo a Secretaria de Estado, chefiada por Marco Rubio e cheia de funcionários ideologicamente conservadores inclinados a hostilizar países latino-americanos de perfil progressista.

A combinação desses fatores contribuiu para o breve, mas simbólico, contato entre Lula e Trump nos corredores da ONU, que pode abrir caminho para uma reunião bilateral.

O percurso até um eventual acordo, contudo, permanece cheio de armadilhas – incluindo pressões de atores interessados em sabotar a aproximação.
Por isso, os elementos que deram origem à “química” exaltada por Trump na tribuna da ONU precisarão ser mantidos. Talvez até reforçados.

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