Análise: Hugo tira o pé da anistia e põe segurança no foco na Câmara Temas de grande alcance eleitoral dominam lista de prioridades e deixam pouco espaço para debate sobre redução de penas
Segurança pública, falsificação de bebidas, trabalho por aplicativo, inteligência artificial, reforma administrativa. Todos esses assuntos serão prioridade absoluta na pauta da Câmara dos Deputados no curto prazo, segundo a projeção feita nesta manhã (3) ao Live CNN pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A relação extensa de projetos que o parlamentar espera aprovar já nos próximos meses deixa pouco ou quase nenhum espaço para a maior demanda do bolsonarismo: um perdão das penas aos condenados na trama golpista e no 8 de Janeiro, que vem sendo articulado sob relatoria do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (Solidariedade-SP).
O motivo, diz Hugo Motta, é que não há sequer texto pronto. Quando o relator concluir as negociações, aí então poderá se discutir o assunto votação.
Mas o que se viu na entrevista concedida por Hugo foi um presidente da Câmara decidido a deixar para trás de vez o desgaste provocado pelo descompasso entre a pauta da Casa e o anseio da população.
A maior expressão da recente crise de imagem ostentada pelos deputados foi, sem dúvida, a PEC da Blindagem, enterrada no Senado após as críticas ao projeto ganharem as ruas. Os senadores abraçaram as honras de enterrar a proposta duramente atacada pela opinião pública. Aos deputados, restou amargar a perda de popularidade.
Entre frases sobre o “diálogo com a sociedade” e o foco na “vida real do brasileiro”, embaladas pela recente aprovação da isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, Hugo Motta dedicou atenção especial a um setor: segurança. Prometeu votar a PEC da Segurança Pública antes do fim do ano. E disse querer passar ainda neste mês um pacote de projetos de lei apresentado pelos 27 secretários estaduais da área. A ordem, disse Motta, é que a Câmara vote “semanalmente” projetos que tratem desse assunto.
Na prática, o movimento de Hugo tem efeito duplo. Além de contribuir para aliviar o desgaste da PEC da Blindagem, ele marca a entrada da Câmara entra em modo eleições. Muitos dos projetos que serão priorizados nas próximas semanas — senão todos — têm potencial eleitoral expressivo. E serão certamente usados pelos deputados para dialogar com suas bases. A dúvida é como se dará a articulação dessas propostas a partir de agora. E o que entrará na mesa de negociações. Seja com o governo Lula ou com a oposição.